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Postagens

Sobre a Psicóloga Elis Pena

Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Cursa Especialização em Sexologia na FMABC. Possui formação em Coordenação de Grupos na Abordagem Fenomenológica Existencial pelo Fenô​ƩGrupos, em Saúde LGBTQIA+: Práticas de Cuidado Transdisciplinar pelo Instituto SaúDiversidade e é multiplicadora em Educação Para Sustentabilidade pelo Núcleo de Estudos Avançados do Terceiro Setor (Parceria PUC-SP e Secretaria do Verde e Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo).  ​ Psicoterapeuta em consultório particular, onde realiza atendimentos individuais para adolescentes e adultos. Supervisora clínica. ​ É colaboradora voluntária do NTU-FAI, Núcleo Trans UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) - Famílias, Adolescências e Infâncias. O ambulatório é responsável pelo acompanhamento de crianças e adolescentes com variabilidade de gênero, além do acompanhamento de suas famílias. Foi colaboradora voluntária do AMTIGOS-NuFor-iPq-HCFMUSP - Ambulatório Transdisciplinar de Id...
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Sobre a LGBTfobia Internalizada

O preconceito se veste com várias máscaras. Quando o assunto é a discriminação a pessoas LGBTQIA+, a mais conhecida é a máscara transparente, explícita. Comentários diretos, impedimento de acesso a lugares e serviços, expulsões de casa, piadas e ridicularizações, agressões físicas, assassinatos e, em 69 países do mundo, criminalização da vivência individual. No entanto, não é apenas de forma direta que o preconceito se mostra. Uma das suas muitas formas se chama LGBTfobia internalizada. No livro "Trinta segundos sem pensar no medo", Pedro Pacífico narra a história de sua vida desde criança a partir do ponto de vista do grande receio que o acompanhou ao longo da juventude: o pavor de ser visto enquanto um homem gay. Pedro narra seu esforço para "parecer hétero", ouvimos histórias sobre decisões baseadas neste norteador e também somos levados para os caminhos de profundidade do sofrimento que viveu. No livro, caminhamos por sintomas, frustrações, arrependimentos, estr...

O cooler, a criança e a segurança de ser.

A importância do apoio para o desenvolvimento de pessoas seguras e corajosas. Recentemente estive em um evento social na presença de Isaac, dois anos de existência na Terra. Isaac é uma criança tranquila, decidida, interessada e - o que me chamou mais a atenção - livre. Ele não é só livre pra correr pela casa com o controle remoto da televisão na mão, é livre para explorar o mundo e construir uma ideia de si a partir dessa grande aventura. Estávamos lá a mãe dele e eu, cada uma em uma cadeira. Entre nós, um cooler (que quando eu era do tamanho do garoto consistia em uma caixa de isopor) com sua tampa fechada. Para travar a tampa de um cooler dos tempos de Isaac, é necessário passar a alça para um lado. Se soltar a alça sem atenção, é dedo preso com toda certeza. Mas para ele isso não é um problema, e ele experimenta. Abaixa a alça devagar e olha pro dedo sendo preso aos poucos. Pára quando sente dor e escolhe outro jeito de brincar com o objeto. Quando se anima demais e so...

O que NÃO é depressão

“Não consigo trabalhar, não consigo dormir, não consigo pensar, não consigo sair da cama. Há uns meses a vida tem sido assim, mas foi um longo processo até entender que isso era um problema.” Você sabia que depressão e tristeza não são a mesma coisa? Nós já postamos um texto sobre depressão, veja no blog da Harmonie. Hoje vim falar sobre uma característica que sempre é mal interpretada quando se trata dessa condicão: a confusão entre depressão e tristeza. A pessoa em vivência de depressão não sente, necessariamente, tristeza. Ela pode sentir raiva, ansiedade, cansaço ou mesmo nada. Isso mesmo, nada. Você já viveu a experiência de sentir nada? Parece angustiante, né? Portanto, sempre que alguém diz que ficou “um pouco deprimido”, na maior parte das vezes está confundindo a depressão com a tristeza ou a melancolia. É natural ficar triste em alguns momentos e isso não é um sinal de alerta. A depressão, por outro lado, não se expressa somente em alguns momentos, da...

Como você está se sentindo agora?

Em tempos de vida corrida, foco em produtividade e excesso de diagnósticos, a pergunta "Como você está se sentindo agora?" parece ter perdido o seu sentido de expressão de subjetividade. Estamos em um período histórico em que o que nos move é sempre acompanhado da necessidade de produzir mais, realizar mais, atingir mais objetivos. Dessa forma, os sentimentos têm sido delegados à categoria de coadjuvantes, ou até de vilões do sucesso. Acontece que somos seres que sentem e não conseguimos fugir dessa nossa dimensão, por mais que tentemos. Podemos nos distrair temporariamente, mas em algum momento da vida seremos surpreendidos por isto que não tem forma concreta e não tem lógica. Isto que nos toma e, se não cuidado, nos impede de fazer, de produzir, de seguir. Por vezes, literalmente de seguir (você já ouviu alguém falar que sentiu tanto medo que foi incapaz de andar? Pois é). Para cuidar desta dimensão da nossa existência, precisamos olhar para ela. Saber que se...

O Som do Silêncio

Ela ficou em silêncio um, cinco dez, quinze minutos. Ainda que estivesse angustiada com falta de som na sala e pensando no que sua terapeuta estava pensando, não conseguiu perguntar ou dizer. Lá fora, ouvia vozes animadas, talvez uma conversa na recepção, talvez alguém rua. Dentro da sala, ouvia sua respiração e só. A terapeuta a olhava, ela sabia, mas ela não olhava de volta. Queria contar que dentro do peito morava um vazio que ela não sabia explicar de onde veio e para onde ia. Queria chorar, mas não conseguia - quase nunca chorava. Queria falar, mas não encontrava por onde começar ou como descrever o que sentia. Queria ser abraçada, mas não conhecia quem pudesse lhe oferecer o abraço necessário para preencher o vazio do peito (será que existiria esse abraço?). No lugar de todas as expressões, reinava o silêncio que já chegava a quase 20 minutos. Muitas vezes tentava imaginar o que a terapeuta pensava quando ela se silenciava. Gostava de imaginar que ela estivesse angustiada també...

Tempo, tempo, tempo, tempo...

Quando crianças o tempo não passava tão rápido quanto queríamos. Na adolescência, sentíamos que o tempo não existia e nada mudaria nunca. Na vida adulta, sentimos que o tempo nos atropela e que quando piscamos já voltou a ser segunda-feira. Quando chegamos à terceira idade, o tempo se mostra mais firme e presente, por vezes ameaçador. Afinal, qual versão de nós tem razão: a criança, o adolescente, o adulto ou o idoso? Ou nosso animal de estimação, que aparenta não perceber o tempo passar a não ser que saiamos de casa por muito tempo? A resposta é: todos. Todos temos, tivemos e teremos razão. O conceito de tempo é abstrato, só pode ser medido através da sensação. Os gregos antigos tinham dois termos para falar sobre o tempo: chronos e kairós. Chronos se referia ao tempo que era possível medir no relógio, o tempo que chamamos de cronológico, aquele que se referia ao encadeamento de movimentos que enxergamos, ouvimos e sentimos. O tempo que os gregos chamavam de kairós se referia...

Confiança na Terapia

A terapia é um processo complexo, intenso e íntimo, no qual o paciente expõe suas angústias, suas falhas e seus medos. Durante anos, ele é capaz de esconder o que sente até de si mesmo, tamanho o receio de enfrentar as consequências da tomada de consciência de seus atos. Como se abrir com quem está do outro lado, o terapeuta, se não houver confiança? Estamos falando da confiança de que o terapeuta estará lá para ouvir, compreender, acolher e, principalmente, não julgar e zelar pela confidencialidade do que for dito. Ainda que esta confiança seja conquistada com o passar das sessões, o profissional deverá garantir que tudo o que for feito e dito com relação ao paciente seja em função de oferecer um espaço seguro para que ele possa ser quem é, desde um espaço seguro para as sessões até o silêncio para que o paciente possa surgir. Pode ser angustiante conhecer uma pessoa e contar a ela seus segredos mais dolorosos, suas opiniões mais cruéis acerca de si mesmo, mas é importante dizer que...